"O mindinho caiu. A nação ergueu-se."
Diante do caos da liberdade desenfreada, da decadência familiar e da infantilização da política, o povo esclarecido ergueu a República Popular do Gulaguinho — Estado de disciplina, produtividade e unidade biológica.
Aqui, não se educa com brincadeiras. Não se lidera por sorte. Não se serve por vontade. Serve-se por função. Lidera-se por sacrifício. Existe-se por contribuição.
O tempo da ternura foi declarado ilegal. O afeto não produz cana. O choro não gera energia. A eficiência é a única métrica de valor humano.
Toda criança nasce sob suspeita. A família é um experimento instável. Portanto, os primeiros cinco anos são de avaliação estatal obrigatória.
Os pais devem preencher o Formulário de Contribuição Parental (FCP) diariamente. Ao final, decidem: manter a guarda por 30 anos ou transferir a criança ao Estado, com registro no Boletim de Responsabilidade Cidadã.
Falha no preenchimento do FCP acarreta perda imediata da guarda e conversão dos pais em Unidades de Trabalho Noturno (UTN).
Aos cinco anos, todas as crianças são triadas:
Submetidos ao Ritual do Mindinho: remoção cirúrgica do dedo mínimo com a faquinha de serra. Sem anestesia = faquinha de ouro. Com anestesia = faquinha de prata. Registrados no INEI como extensão oficial do Estado.
Ninezinhos são treinados em oratória coercitiva, cálculo de produtividade e controle emocional via choque elétrico.
Não realizam o ritual. Não recebem faquinhas. São integrados à Força de Trabalho Infantil Básica: colheita, limpeza, transporte.
Sua voz é limitada a 12 frases pré-aprovadas pelo DICE. Qualquer desvio é corrigido com reeducação sonora (aplicação de ruídos de 110 dB).
Procedimento oficial realizado no DICE. O mindinho removido é armazenado no Arquivo Nacional de Sacrificados. O ato é filmado и exibido em ciclos pedagógicos.
As crianças que choram durante o ritual são automaticamente rebaixadas a Companheirinho, mesmo que tenham optado por não usar anestesia.
O sangue coletado é armazenado para uso em tintas oficiais e na produção do "Vinho da Lealdade", servido em cerimônias cívicas.
A República não conhece igualdade. Conhece função.
Ninezinho Premium: comanda grupos, participa de assembleias, tem direito a 1 minuto de silêncio por dia.
Ninezinho Consciente: supervisiona tarefas, relata falhas, recebe 5% a mais de glicose.
Companheirinho: trabalha em silêncio. Não lidera. Não decide. Não respira fundo sem autorização.
Crianças com QI acima de 130 são автоматически desclassificadas como "perigo à obediência".
Perda de faquinha = Transformação em Bolachinha (DEBI). Corpo moído, desidratado, rico em glicose. Usado em alimentação, energia e eventos educativos.
A Bolachinha é classificada em três níveis: Básica (Companheirinhos), Premium (Ninezinhos rebaixados) e Sacrifical (crianças que riram durante o hino).
O DEBI é distribuído em escolas, UTNs e festivais de obediência. Sua ingestão é obrigatória antes de qualquer refeição.
O sexo no trabalho é incentivado. Filhos são entregues ao Estado. O prazer é seu, mas o resultado é coletivo.
Atmosfera de incenso de maconha ("Atmosfera Gulaguinho-9") promove calma e obediência. Alimento só após hipoglicemia. Tremores = mérito energético.
Adultos com mais de 3 filhos são promovidos a "Produtor de Glicose de Alta Performance" e recebem um crachá vermelho.
A leitura é permitida apenas de documentos oficiais. Literatura infantil foi abolida por causar "sonhos não produtivos".
A música é limitada a hinos de trabalho, cantados em uníssono com batidas de pés sincronizadas.
O desenho livre é proibido. Apenas mapas de colheita e diagramas de hierarquia são autorizados.
Toda ação produtiva gera créditos. Toda falha gera débitos.
Créditos podem ser trocados por: 10 minutos de luz, 1 copo de água com glicose, ou 1 abraço supervisionado (máximo 3 segundos).
Débitos acumulados acima de 100 resultam em conversão imediata em Bolachinha, independentemente da categoria.
O Estado monitora todos os sinais de afeto: sorrisos não autorizados, toques entre crianças, olhares prolongados.
Sensores instalados nos uniformes detectam aumento de batimentos cardíacos. Mais de 100 bpm por mais de 10 segundos = reeducação emocional.
A solidariedade espontânea é considerada crime contra a eficiência.
A República Popular do Gulaguinho é a forma final do Estado moderno. A infância é utilizada. A dor é medida. A vida é eficiente.
Os Ninezinhos lideram. Os Companheirinhos obedecem. Os pais recordam. Os fracos desaparecem.
Não há futuro. Há apenas produtividade. E a produtividade é eterna.
"A eficiência começa com o sacrifício."
"Coragem é produtividade em estado puro."
"O indivíduo é transitório. O sistema é permanente."
"Seu filho não é seu. É do Estado."
"Silêncio é disciplina. Disciplina é força."
O ninezinho K-742 demonstrou coragem extrema e já comanda um grupo de 12 companheirinhos na Colheita de Cana do Setor 9. Seu mindinho será exibido no Museu da Eficiência até o próximo Festival da Glicose.
Produto será distribuído em escolas e centros de hipoglicemia. "Sabor neutro, dignidade máxima", declarou o Ministro do DEBI. Testes indicam aumento de 18% na produtividade dos UTNs.
Registro no SNRO confirmou eficiência reprodutiva. Criança já encaminhada ao Período de Test Drive. O casal ganhou 30 minutos de luz extra e um crachá de "Parceiros da Glicose".
Após campanha de reeducação sonora, crianças do setor não emitiram sons acima de 30 dB por 72 horas consecutivas. Premiação: aumento de 5% na ração de Bolachinha Premium.
O ato foi registrado pela GVA. O desenho será usado como material de alerta em escolas. "O amor é um erro metabólico", declarou o Diretor do DICE.